terça-feira, 20 de abril de 2010

Pressa

Deixo a pressa pela margem,

pressa de ser quem não sou.

E mesmo de costas voltadas,

ouço a pressa chamar-me,

com a fome de quem jejuou.


Pressa das mil marteladas:

a quente,

a frio,

a nada...


Pressa da vida adiada...


Dos dias que o eu não tocou...



Deixo a pressa pela margem,

e vou desembaraçada

p'lo sumo da água salgada

que me leva com afinco.


Água limpa, imaculada,

penugem doce, almofada

do longo repouso bem-vindo.


E cuido de mim abrigada:

cada ferida,

cada espada,

cada sulco,

cada vinco.


Não quero tardar a chegada

à terra da certa alvorada,

da noite magra estrelada

onde cresço e me consinto.


Nado forte, de braçada,

deixando a pressa p'la margem

com a pressa de ser o que sinto.



Novembro 2009/Janeiro 2010


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