Deixo a pressa pela margem,
pressa de ser quem não sou.
E mesmo de costas voltadas,
ouço a pressa chamar-me,
com a fome de quem jejuou.
Pressa das mil marteladas:
a quente,
a frio,
a nada...
Pressa da vida adiada...
Dos dias que o eu não tocou...
Deixo a pressa pela margem,
e vou desembaraçada
p'lo sumo da água salgada
que me leva com afinco.
Água limpa, imaculada,
penugem doce, almofada
do longo repouso bem-vindo.
E cuido de mim abrigada:
cada ferida,
cada espada,
cada sulco,
cada vinco.
Não quero tardar a chegada
à terra da certa alvorada,
da noite magra estrelada
onde cresço e me consinto.
Nado forte, de braçada,
deixando a pressa p'la margem
com a pressa de ser o que sinto.
Novembro 2009/Janeiro 2010
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