Trémula a bússola que alumia
lassas sombras
de tornozelos finos,
os meus.
Quase se partindo
no insidioso chão
que teima em dizer
tudo é tudo.
Um tudo de aço,
que me olha
passo
a passo.
Vôo preso grave escarpado,
silvo dilacerante
chovendo-me o prumo.
Sou-me pela metade.
E as costas arqueiam
a vida que não perfuma.
Rosa de pétalas espinhos nua,
calcado caule,
sem cerca,
na rua.
-Onde estás tu,
que nem o céu podes olhar?
-Sim, tu, de penas e alcatrão?
Passo a linha pelo picotado:
uma, duas, três vezes.
A linha.
Pelo picotado.
Uma, duas, três,
quatro, cinco, seis vezes.
Novamente. Sem parar.
E teço um muro tão espesso,
muro espesso,
p'ra me tapar.
Sou-me pela metade,
que em fios de incenso vago
evapora meus sonhos.
Em pó,
minhas mãos.
A metade que espreita,
metade que espera,
a queda
que me supera
vezes com conta
que não quero contar.
Já não quero contar.
Vem,
luz escondida,
promessa de meu resgatar.
Mal posso esperar,
diáfana alma,
a vida possível.
Março/Maio 2010