segunda-feira, 3 de maio de 2010

Pela metade

Trémula a bússola que alumia

lassas sombras

de tornozelos finos,

os meus.

Quase se partindo

no insidioso chão

que teima em dizer

tudo é tudo.


Um tudo de aço,

que me olha

passo

a passo.

Vôo preso grave escarpado,

silvo dilacerante

chovendo-me o prumo.


Sou-me pela metade.

E as costas arqueiam

a vida que não perfuma.

Rosa de pétalas espinhos nua,

calcado caule,

sem cerca,

na rua.


-Onde estás tu,

que nem o céu podes olhar?

-Sim, tu, de penas e alcatrão?


Passo a linha pelo picotado:

uma, duas, três vezes.

A linha.

Pelo picotado.

Uma, duas, três,

quatro, cinco, seis vezes.

Novamente. Sem parar.

E teço um muro tão espesso,

muro espesso,

p'ra me tapar.



Sou-me pela metade,

que em fios de incenso vago

evapora meus sonhos.

Em pó,

minhas mãos.


A metade que espreita,

metade que espera,

a queda

que me supera

vezes com conta

que não quero contar.


Já não quero contar.


Vem,

luz escondida,

promessa de meu resgatar.

Mal posso esperar,

diáfana alma,

a vida possível.




Março/Maio 2010