Espreito.
Do outro lado do pano cai o céu
em flocos de sono distante.
Nuvens vagas balouçando lentamente,
sua firmeza roubando.
Lá longe sopra o amor
onde o palco aos olhos acaba;
por mais que corras menina
essa brisa não tornará.
Apago.
Mas como deixar-te sozinha no tempo do que passou,
no chão que breve te escapa, açoite no amor que é teu?
Como beber o sossego da luz que sobe adiante
se a braços com o escuro te encontro,
olhando as estrelas vazias de um dia que se não vê?
Como posso tocar o som da vida, menina,
vendo-te tão pouca,
lambendo o pêlo por carícias que te devolvam inteira?
Volto.
Menina em franja,
sou eu, p'ra te levar.
Lança teus braços quentes
do fundo mais fundo que és
e corre até ganhares pé
na vida que tens entre as mãos.
Espreguiça cada momento
p'la espuma longa na areia
que, de perto, beija o céu.
E corre menina, corre,
corre hoje bem desperta,
que a tua franja
sou eu.
Julho/Setembro 2010