Imagem,
vejo-te ao espelho
plana,
como palavra repetida eternamente.
Sonhos,
não me deixam partir...
Sonhos sem o meu cheiro.
Estrangeiros são os passos
que me cercam
a vida,
e sei agora alheia
a casa que trago às costas.
Sei-o,
prenha de orvalho...
Esta casa,
chumbo impune,
do nado-morto desejo.
Casa seca,
sabor duro,
onde,
cega,
me revejo.
Esta casa,
infortúnio,
forçando-me ao que não sou,
é a mágoa onde vivo,
o castigo de quem sonhou.
Ah...
o que me apetece fugir a esta noite sem estrelas,
arrancar-me a estas entranhas inquietas,
a este prurido sem mãos, sem dedos...
Se...
Se eu pudesse voltar
ao início do tempo,
do MEU tempo,
e cuspir
toda a terra,
todo o pó...
Tossi-los
de uma só vez.
Se eu pudesse estancar
a raiva,
a revolta,
num só grito,
e resvalar
p'las escarpas
da tristeza,
da dor...
Couraça de amor seria...
Olha-me
o buraco a arfar no peito,
e um azul imenso
cobre-me o corpo
de areia caída,
vencida.
No que fui,
de longo embuste,
naufraguei...
E resto-me
apenas
incerta,
desconhecida...
Março/ Abril 2010