terça-feira, 20 de abril de 2010

Desconhecida

Imagem,

vejo-te ao espelho

plana,

como palavra repetida eternamente.


Sonhos,

não me deixam partir...

Sonhos sem o meu cheiro.


Estrangeiros são os passos

que me cercam

a vida,

e sei agora alheia

a casa que trago às costas.


Sei-o,

prenha de orvalho...


Esta casa,

chumbo impune,

do nado-morto desejo.

Casa seca,

sabor duro,

onde,

cega,

me revejo.


Esta casa,

infortúnio,

forçando-me ao que não sou,

é a mágoa onde vivo,

o castigo de quem sonhou.


Ah...

o que me apetece fugir a esta noite sem estrelas,

arrancar-me a estas entranhas inquietas,

a este prurido sem mãos, sem dedos...


Se...

Se eu pudesse voltar

ao início do tempo,

do MEU tempo,

e cuspir

toda a terra,

todo o pó...

Tossi-los

de uma só vez.


Se eu pudesse estancar

a raiva,

a revolta,

num só grito,

e resvalar

p'las escarpas

da tristeza,

da dor...


Couraça de amor seria...



Olha-me

o buraco a arfar no peito,

e um azul imenso

cobre-me o corpo

de areia caída,

vencida.

No que fui,

de longo embuste,

naufraguei...

E resto-me

apenas

incerta,

desconhecida...



Março/ Abril 2010


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